quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Ney Lopes Jr. presta homenagem à Claudionor Telógio de Andrade


O vereador Ney Lopes Jr.(DEM), proferiu discurso emocionado nesta quinta-feira,20, na sessão solene em comemoração pelo centenário de nascimento de Claudionor Telógio de Andrade. Confira na íntegra o homenagem póstuma realizada pelo parlamentar democrata, que é neto do homenageado.
Em, 20 de agosto de 2009 no Plenário da Câmara Municipal de Natal

Senhoras e Senhores,
Ilustres colegas Vereadores presentes,

Aristóteles, o mais brilhante discípulo de Platão, afirmou que "a grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las".
Tenho prazer em poder reconhecer publicamente o merecimento do meu avô Dr. Claudionor Telógio de Andrade, ex-prefeito de Natal, para receber as honrarias desta casa legislativa, no transcurso do seu centenário de nascimento.

Esta comemoração da Câmara Municipal de Natal nasce da profunda admiração e reconhecimento, não apenas dos familiares e amigos próximos, mas de todos aqueles que tiveram a oportunidade de conhecer o nosso homenageado, mesmo através de informações póstumas, em cujo perfil sempre realçou o talento profissional do advogado militante, a fecundidade de suas reflexões e lições de vida, a incomparável generosidade, e, sobretudo, o “pai de família” exemplar, caracterizado pela dedicação e amor à sua esposa, Maria Wancy Aquino de Andrade, aos seus filhos, netos e bisnetos.

O Dr. Claudionor Telógio de Andrade nasceu em 21 de agosto de 1909, na cidade de São José de Mipibú, RN. Filho de Manoel Cassimiro de Andrade e Abigail Rodrigues de Andrade contraiu núpcias com a senhora Maria Wancy Aquino de Andrade, natural de Pau dos Ferros-RN.

Iniciou o curso de Direito na “Faculdade de Direito da Universidade de Pernambuco” e concluiu na “Faculdade de Direito da Universidade do Ceará”, em 1933.Como promotor público prestou serviços nas Comarcas de Pau dos Ferros, Caraúbas, Assu e Acari. Foi juiz municipal nas comarcas de Pedro Velho, Augusto Severo, São Miguel, Apodi, Jucurutu e assistente jurídico da Prefeitura de Natal. Em 1940, passou a residir em Natal, dedicando-se à advocacia, ao magistério e ao jornalismo.

Orador eloqüente, logo se destacou no Tribunal do Júri. Após a redemocratização, exerceu os cargos de Secretário Geral do Estado, na interventoria de Ubaldo Bezerra; membro do “Conselho Administrativo do RN”, por nomeação do Presidente da República; procurador fiscal; advogado da Fazenda estadual e Consultor Geral do Estado.

Além disto, compôs a Assembléia Legislativa Constituinte do Estado, instalada em 1947. Pelos seus notórios conhecimentos jurídicos participou ativamente como jurista dos trabalhos de elaboração e promulgação da primeira Constituição do Rio Grande do Norte, após o “Estado Novo”. Afastou-se da Assembléia Legislativa do Estado para investir-se nas funções de prefeito municipal da cidade de Natal.

Como chefe do Poder Executivo natalense consta na sua mensagem à Câmara Municipal de Natal, em 1° de abril de 1950, pioneiramente, a proposta de criação da previdência social para os servidores municipais; a iniciativa da legislação que isentou do imposto predial os servidores públicos estaduais e municipais; a alteração do Plano Diretor da cidade, estruturando o bairro de Lagoa Nova; o inicio dos trabalhos de construção de galeria de águas pluviais nos bairros de Petrópolis, Tirol e Ribeira; iniciou o estudo técnico para interligação do centro da cidade de Natal com a praia da Redinha e um plano para a distribuição de pequenos lotes de terreno nas Rocas e no Alecrim para as pessoas carentes.

Na vida pública, desempenhou, ainda, funções no governo estadual de Secretário de Estado do Interior e Justiça, tendo sido o primeiro titular da Secretaria de Estado da Segurança Pública do Rio Grande do Norte, em virtude da extinção e transformação do cargo de Chefe de Polícia.

Durante quase duas décadas, presidiu a Ordem dos Advogados do RGN. Participou do Conselho Nacional da OAB e chefiou delegações de advogados para encontros e conferências em todo território nacional.

Presidiu o Instituto dos Advogados do RN, órgão de cultura da classe; a Academia Potiguar de Letras (como membro efetivo) e o Partido Social Trabalhista (PST).
Como jornalista profissional integrou o Conselho da Associação Norte-rio-grandense de Imprensa (ANI) e foi membro do “Conselho Técnico-Administrativo” da UFRN.

O advogado e escritor Diógenes da Cunha Lima, no livro sobre a vida do Ministro José Augusto Delgado, mencionou ter sido seu aluno na “Turma da Paz” e o considerou “exemplo vivo de liderança e habilidade advocatícia, em Processo Civil”.

Pela sua atividade pública e profissional, o seu nome figura nos livros “Brasil e Brasileiros de Hoje”, de autoria do escritor baiano Afrânio Coutinho, membro da Academia Brasileira de Letras e no livro “Rio Grande do Norte – Oradores”, do escritor conterrâneo Dr. Jurandyr Navarro, que nos honra com a sua presença nesta solenidade.

O Conselho Universitário da UFRN, por proposta do então Magnífico Reitor Diógenes da Cunha Lima, outorgou-lhe, à unanimidade, o honroso título de Professor Emérito, por ter sido fundador da Faculdade de Direito e da UFRN. Foi agraciado com as medalhas comemorativas do centenário do nascimento de Clóvis Beviláqua, conferida pelo Ministro de Educação e Cultura, Clóvis Salgado; e de “Honra ao Mérito” pelos advogados do RN (11/08/1965), em reconhecimento à sua profícua atividade advocatícia além da “Medalha Osvaldo Vergara”, iniciativa da OAB do Rio Grande do Sul, pelos relevantes serviços prestados à classe dos advogados.

Por ter exercido mandato de deputado estadual constituinte, a Assembléia Legislativa do Estado prestou-lhe homenagem póstuma em 1981, por iniciativa do seu ex-aluno, deputado estadual, Luiz Antonio Vidal, ocasião em que falaram os deputados Dary Dantas, Márcio Marinho e Roberto Furtado.

Faleceu em Natal-RN, na Casa de Saúde São Lucas, em 09 de novembro de 1980. No velório, o filho e meu tio Epitácio Andrade, traduzindo a dor da sua dedicada mãe, irmãos, irmãs e familiares, iniciou a declamação do soneto de Augusto dos Anjos: “A árvore da terra”. Tomado pela emoção, não concluiu a leitura.

Senhoras e Senhores,
Colegas Vereadores,
Este é o perfil do meu estimado e saudoso avô: CLAUDIONOR TELÓGIO DE ANDRADE. Santo Agostinho proclamava que “somente o todo é verdadeiro”. É justamente o “todo” do nosso homenageado, que o transformou em exemplo de vida.

Recordo o depoimento da minha avó Wancy. Ela dizia que o meu avô Claudionor sempre acreditou na vida. Persistiu. Perseguiu objetivos. Superou muitos obstáculos pela sua origem humilde. Mas nunca se intimidou. No final, venceu, o que é orgulho para os seus onze filhos, dos quais quatro já falecidos; 30 netos e 44 bisnetos.

Diariamente, escrevia edificantes lições de obstinação e luta nas páginas da sua existência. No magistério, o período do Atheneu Norte-riograndense, quando lecionou geografia geral. Como professor fundador da Faculdade de Direito na disciplina de Processo Civil, uma das suas características era atender gentilmente aos alunos, orientando-os para a futura vida profissional.

A sua ex-aluna, escritora Anna Maria Cascudo Barreto, filha do Mestre e do orgulho potiguar Luis da Câmara Cascudo escreveu que “Claudionor Telógio de Andrade vive hoje através dos filhos, netos e descendentes, ocupando espaços brilhantemente nos diversos ramos de atividade humana. Mantêm a argila da sua inteligência, moldando e modelando figuras, eternizando a lembrança de um homem de bem, que nem o tempo logrou apagar das pessoas felizes que o conheceram. Mestre e inesquecível!...”

O professor e escritor, Edgar Barbosa, em seu livro “História de uma campanha”, registra o início da trajetória política do meu avô Claudionor de Andrade, nas articulações eleitorais da região Oeste do estado, durante a primeira grande campanha política potiguar em 1934, liderada pelo Partido Popular.

O Homenageado ligou-se, em vida, a fiéis amigos como o senador Georgino Avelino e o senador Dinarte Mariz, que sempre o prestigiaram. No dia 6 de agosto de 1955 acolheu em sua residência, à rua Açu, 418, o então aspirante à Presidência da República, Juscelino Kubitschek, que recebeu o apoio do partido por ele presidido no Estado - o Partido Social Trabalhista. No mesmo dia, falou em comício na Praça Gentil Ferreira, ao lado do deputado Teodorico Bezerra, à época presidente do Partido Social Democrático – PSD -, ao qual pertencia o candidato Juscelino Kubitschek.

O exercício da advocacia foi a marca da personalidade do Homenageado de hoje. Dizia-se um advogado por vocação. Pelas informações dos familiares - já que no seu falecimento eu tinha apenas seis anos de idade -, ele sem dispor dos recursos da informática, redigia as suas petições a mão, depois datilografadas e recheadas de erudita doutrina e jurisprudência.

Proclamava em artigos na imprensa, em palestras e diálogos com amigos, a sua inabalável crença nos direitos fundamentais de todas as pessoas; condenava condutas governamentais abusivas e sempre atribuía prevalência à essencial dignidade da pessoa humana.
Na presidência da Secção Regional da Ordem dos Advogados considerou a instituição “porta voz” da sociedade, em busca da liberdade, da plena justiça e dos direitos da cidadania. Preservou o princípio constitucional do artigo 133, de que os advogados são indispensáveis à administração da justiça. Norteava-se pelas palavras de Rui Barbosa, que afirmava: "o primeiro advogado foi o primeiro homem que, com a influência da razão e da palavra, defendeu os seus semelhantes contra a injustiça, a violência e a fraude."
O Dr. Claudionor Telógio de Andrade era tido como um homem cordato. A todos atendia com um largo sorriso. Gostava de conviver com a família e os amigos. Tornaram-se tradicionais na cidade nos anos 50, as serestas realizadas na sua residência à rua Açu, com a presença das vozes de Vanildo Nunes, Roldão Botelho, Antonio Elias e Gil Barbosa, algumas vezes com a transmissão ao vivo pela Rádio Poti, quando se ouviam as tradicionais canções “Luar do Sertão”, “Ontem ao Luar”, “A Casa branca da Serra”, O "Adeus" de Teresa, Vem!, “A casinha pequenina” e a “A pequenina cruz do teu rosário”.
A preferência do nosso Homenageado era cantar a música Praieira, de autoria do consagrado compositor potiguar Otoniel Menezes, cuja memória invoco com respeito e admiração. Registro que, por decreto da Prefeitura de Natal do ano de 1971, “Praieira” foi considerado o “Hino da Cidade de Natal”. O nome original dessa composição foi “Serenata de Pescador”, como saudação aos pescadores natalenses que, em três barcos de vela, viajaram de Natal ao Rio de Janeiro, dentro das comemorações do centenário da independência, em 1922.

Já se disse que “muitos deixam saudade, poucos deixam lições”. O Dr. Claudionor Telógio de Andrade deixou um legado de saudade e de profundos ensinamentos. Ele viveu de acordo com a máxima de Ortega y Gassêt, que condena a afirmação de que, na vida, o que decide são as circunstâncias. “Ao contrário, as circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos que nos decidir. Mas o que decide é o nosso caráter".

Foi este caráter firme, demonstrado ao longo da vida, que justifica a homenagem póstuma na celebração do seu centenário de nascimento. A dignidade timbrou a sua conduta e constitui o grande galardão para os filhos, netos, bisnetos, genros, noras, familiares, amigos e admiradores.

Vejo neste recinto os que honraram com as suas presenças. Agradeço, sensibilizado a todos, em nome da família, estendendo os agradecimentos aos meus Ilustres pares nesta Casa, que aprovaram a realização desta sessão solene e igualmente os dedicados funcionários da Câmara Municipal de Natal, que a organizaram. Além de todos que compõem o meu gabinete nesta Casa.

Deixo consignada, a gratidão familiar aos doutores Jurandyr Navarro e Iaperi Araújo, que conviveram com o Homenageado e farão uso da palavra nesta solenidade. Igualmente, os nossos agradecimentos ao jornalista Ticiano Duarte pela publicação, ontem, no jornal Tribuna do Norte, de artigo sobre a vida do Dr. Claudionor de Andrade. Registro, com especial satisfação, a presença nesta solenidade, do Conselheiro Valério Mesquita, Vice-Presidente do Tribunal de Contas do Estado, filho do deputado estadual constituinte em 1947, DR. ALFREDO MESQUITA FILHO, honrado e tradicional líder político do Estado e amigo do meu avô, no instante em que foram reconstruídos os caminhos da democracia brasileira.

Agradeço a carta enviada pelo Senador José Agripino Maia, Presidente do meu partido e líder político nacional respeitado e aplaudido, cujo pai DR. TARCISIO DE VASCONCELOS MAIA, ex-governador do RN, foi contemporâneo do Dr. Claudionor de Andrade, no governo Dinarte Mariz, como titular da Secretaria de Educação e Cultura.

Manifesto os agradecimentos da família à Senadora Rosalba Ciarlini, aqui presente, natalense honorífica pela proposta de minha autoria apresentada nesta Câmara, já aprovada. A Senadora Rosalba tem militância e incontestável liderança na política do RN e sobretudo do Oeste potiguar, justamente a região onde o Dr. Claudionor de Andrade deu os seus primeiros passos na vida pública, conforme o registro histórico do Dr. Edgar Barbosa, anteriormente citado.

Senhoras e Senhores,
Cultivamos, juntos, a lembrança de um Homem que venceu as dificuldades, cresceu mesmo com o açoite dos ventos e fez-se forte, sem nenhum assomo de desânimo na caminhada da vida, ou de revolta diante das injustiças que sofreu. Trabalhou, ao lado e com a solidariedade da sua fiel companheira Maria Wancy Aquino de Andrade, até a última batida do coração. Em todos nós, ainda derramam-se as lágrimas do amor e da saudade. A morte, segundo Sócrates, não pode ser a destruição absoluta; não pode ser uma das raras noites que passamos sem sonho e sem consciência de nós mesmos.

Estou certo de que o meu avô, CLAUDIONOR DE ANDRADE, está feliz por ser lembrado, até porque a lembrança é uma forma de prece e por isto é abençoada por Deus. Tinha razão o poeta popular Patativa do Assaré ao vaticinar que a terra come quem morre, porém fica vivo o nome daquele de quem se gosta.

Por isto, meu avô Claudionor, o seu nome continua vivo e brilhando, em nossos corações e suas lições e ensinamentos perpetuados nas nossas mentes.
Muito obrigado pela presença de todos!!!!

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