quarta-feira, 28 de março de 2012

Discurso do Vereador Ney Lopes Jr. em homenagem ao advogado Bira Holanda( in memorian)


Minhas senhoras,
Meus senhores; familiares de Ubirajara de Holanda Cavalcante Júnior, o nosso inesquecível Bira

Hoje esta Câmara Municipal de Natal se reúne para a outorga de um título de cidadania natalense em caráter póstumo. A homenagem é ao jovem advogado Dr. Ubirajara, carinhosamente chamado de Bira pelos seus familiares e amigos. Quis o destino que ele partisse prematuramente para a Eternidade. Deixou-nos no vigor da idade. Com ele desfrutei momentos agradáveis de convivência, em razão de sua amizade com o meu sobrinho querido, Thiago.

Bira assim chamado pelos amigos e Birinha pelos familiares era uma pessoa singular. Um pouco mais velho do que os amigos que compunham o seu grupo universitário, nunca perdeu o tom da cordialidade, do humor sadio. A sua marca registrada era o sorriso sempre estampado na face. Ele conduzia consigo os sentimentos da Paz e da Alegria e dividia com aqueles com quem convivia.

A sua história de vida é marcada pela persistência, pelo Ideal de dedicação plena ao Direito e a Justiça, na condição de advogado militante. No seu convite de formatura, em 2009, lê-se frase de sua autoria que diz: “Foi durante a luta pelo conhecimento, quando apenas buscava a felicidade, que decidi que, antes de querer ser um homem de sucesso, seria um homem de valor. Fiquem certos, me tornei um cidadão disposto a lutar pela justiça”.

Filho de Ubirajara de Holanda Cavalcante (sertanejo de Pau dos Ferros), e Terezinha Sousa de Holanda Cavalcante (natalense), nasceu em Manaus, no estado do Amazonas em 15 de Outubro de 1985 devido à transferência do seu pai para exercer função especifica na Caixa Econômica Federal na região amazônica. Quatro anos depois veio morar em Natal com a família, cidade que considerava o seu berço. Por coincidência do destino, ele repetia que desejaria um dia ser cidadão natalense honorário. Em função das atividades funcionais, o seu pai voltou a ser transferido para a cidade de Nova Cruz, em nosso estado. 

No “Colégio Girafinha” e depois no Colégio Henrique Castriciano, Bira relacionou-me com a juventude novacruzense e iniciou atividades de liderança estudantil, participando do grêmio do Colégio, revelando o dom da oratória, que a todos encantava e atraía. As marcas da sua personalidade se enraizaram de tal maneira em Nova Cruz, que onze anos após deixar a cidade, quando foi vítima da fatalidade, os velhos amigos sabendo da tragédia, vieram em comitiva prestar-lhe homenagem no instante da partida, o que confirma o grande carisma que Bira despertava naqueles com quem se relacionava.
Estudioso e cumpridor dos seus deveres como estudante, Bira em 2001 era aprovado com méritos no processo seletivo de acesso ao CEFET-RN. Em razão disto, deixou Nova Cruz e veio para Natal em busca dos seus sonhos, residindo no bairro do Alecrim, na casa do avô. O Alecrim para ele se transformou em verdadeira paixão. Lá estavam as raízes de sua família. O símbolo dessa paixão foi o “Alecrim Futebol Clube”, do qual era conselheiro e diretor jurídico, a todos proclamando o amor pelo que chamava “o verdão maravilha”.

No CEFET, onde concluiu o curso médio em 2003, exerceu função de liderança no Grêmio estudantil e ingressou curso de Desenvolvimento de Web e, posteriormente, no Superior de Tecnologia em Controle Ambiental.

Bira, como dizia Fernando Pessoa, tinha em si todos os sonhos do mundo. Conduziu-se com firmeza em busca do sonho de ingressar no curso de Direito da nossa Universidade. Acreditou na máxima de Walt Disney, segundo a qual se podemos sonhar, também podemos tornar nossos sonhos realidade”.

Em 2005 entrou, segundo as suas próprias expressões, no “glorioso” curso de direito da UFRN. Disposto a ser um guardião da justiça, desde os bancos acadêmicos participou ativamente de conselhos e grêmios. Foi militante ativo e coordenador do Centro Acadêmico Amaro Cavalcanti. 

De 2008 a 2009 integrou como membro titular o Conselho Universitário da UFRN, na condição de representante estudantil, órgão máximo de função normativa, deliberativa e de planejamento da Universidade nos planos acadêmico, administrativo, financeiro, patrimonial e disciplinar.

Outro traço do nosso homenageado póstumo era a visão internacional, buscando as experiências globais, através do direito comparado, para aperfeiçoar a sua atividade profissional. 

Nessa condição, ele participou ativamente da organização SOI – Simulação de Organizações Internacionais “-, ocasião em que integrou a Comissão de Direitos Humanos, na Conferência das Nações Unidas, na Comissão de Narcóticos e no Tribunal de Nuremberg. Em 2006, como delegado do Comitê Econômico Financeiro em evento na Índia, foi premiado com uma Menção Honrosa, por ter se destacado nos debates. Além disso, atuou no SOI como diretor-assistente do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), comitê voltado para os estudantes do Ensino Médio e em 2007 debateu a questão da modernização da política e da estratégia mundial da água. 

Ainda no SOI, “Bira” teve participação ativa na Organização Mundial da Saúde, no comitê voltado para os estudantes do ensino médio, que debateu a questão da AIDS (HIV/AIDS - Prevenção e Combate). Na Comissão de Prevenção ao Crime e Justiça Criminal debateu a questão dos presídios - Políticas de Humanização e Adequação dos Sistemas Prisionais.

Minhas senhoras
Meus senhores,
O perfil biográfico do nosso homenageado fala por si. Um homem dedicado ao Bem, que tinha a sua frente uma estrada de vida a ser construída pela solidariedade e a fraternidade. Quis Deus, nos seus desígnios, que essa estrada fosse interrompida pela fatalidade de uma tragédia, exatamente quando exercia as suas funções de advogado abnegado e vocacionado. A sua lembrança e, sobretudo, o seu exemplo inspira a todos nós e se constitui o legado maior que deixou.

Bira participava das “calouradas” acadêmicas, de onde nunca se afastou, mesmo tendo concluído a sua graduação. Ele se proclamava feliz pela oportunidade de compartilhar alegrias com os amigos, ainda estudantes. Estava presente nos eventos do CAAC, como posses, debates, fóruns e Aulas Magnas. Os seus pontos de vista tinham a marca da credibilidade e eram por isto acatados. Outro traço de Bira era a preservação das tradições acadêmicas, sobretudo do curso de direito da UFRN. Era chamado guardião da tradição do curso. Ele sempre mencionava histórias da antiga Faculdade da Ribeira, em especial ao episódio do furto do Busto de Amaro Cavalcanti.

Senhoras e senhores,
Diante de uma vida digna e honrada, como foi a de Bira, esta Casa homenageia a sua memória conferindo-lhe a cidadania Natalense. O título lhe faz justiça, tanto pelo amor que teve pela cidade de Natal, quanto pelos serviços que a ela prestou. Além do mais, como já disse, ser cidadão natalense era um desejo que ele manifestava nas rodas de amigos, tendo em vista ter nascido eventualmente em Manaus.

Bira vivia profundamente a sua profissão de advogado. Em 2007, durante o seminário de integração do curso de direito, afirmou: “Não cursem o Direito. É preciso vivê-lo e respirá-lo. Ousem amar esse curso fabuloso. Não passem pelo direito: apaixonem-se por ele”.

Os seus pais, familiares e amigos podem se orgulhar daquele que homenageamos nesta noite, o mais novo cidadão natalense Dr. Ubirajara de Holanda Cavalcante Júnior.
Ao final das minhas palavras evoco Carlos Drumond de Andrade e repito o seu verso:

“Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste”.
Que Deus conserve Bira na Eternidade.

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