Minhas senhoras,
Meus senhores;
familiares de Ubirajara de Holanda Cavalcante Júnior, o nosso inesquecível Bira
Hoje esta
Câmara Municipal de Natal se reúne para a outorga de um título de cidadania
natalense em caráter póstumo. A homenagem é ao jovem advogado Dr. Ubirajara,
carinhosamente chamado de Bira pelos seus familiares e amigos. Quis o destino
que ele partisse prematuramente para a Eternidade. Deixou-nos no vigor da
idade. Com ele desfrutei momentos
agradáveis de convivência, em razão de sua amizade com o meu sobrinho querido,
Thiago.
Bira assim
chamado pelos amigos e Birinha pelos familiares era uma pessoa singular. Um
pouco mais velho do que os amigos que compunham o seu grupo universitário,
nunca perdeu o tom da cordialidade, do humor sadio. A sua marca registrada era
o sorriso sempre estampado na face. Ele conduzia consigo os sentimentos da Paz e da Alegria e dividia com aqueles
com quem convivia.
A sua história
de vida é marcada pela persistência, pelo Ideal de dedicação plena ao Direito e
a Justiça, na condição de advogado militante. No seu convite de formatura, em
2009, lê-se frase de sua autoria que diz: “Foi durante a luta pelo conhecimento, quando apenas buscava
a felicidade, que decidi que, antes de querer ser um homem de sucesso, seria um
homem de valor. Fiquem certos, me
tornei um cidadão disposto a lutar pela justiça”.
Filho de
Ubirajara de Holanda Cavalcante (sertanejo de Pau dos Ferros), e Terezinha
Sousa de Holanda Cavalcante (natalense), nasceu em Manaus, no estado do
Amazonas em 15 de Outubro de 1985 devido à transferência do seu pai para
exercer função especifica na Caixa Econômica Federal na região amazônica.
Quatro anos depois veio morar em Natal com a família, cidade que considerava o
seu berço. Por coincidência do destino, ele repetia que desejaria um dia ser
cidadão natalense honorário. Em função das atividades funcionais, o seu pai
voltou a ser transferido para a cidade de Nova Cruz, em nosso estado.
No
“Colégio Girafinha” e depois no Colégio Henrique Castriciano, Bira
relacionou-me com a juventude novacruzense e iniciou atividades de liderança
estudantil, participando do grêmio do Colégio, revelando o dom da oratória, que
a todos encantava e atraía. As marcas da sua personalidade se enraizaram de tal
maneira em Nova Cruz, que onze anos após deixar a cidade, quando foi vítima da
fatalidade, os velhos amigos sabendo da tragédia, vieram em comitiva
prestar-lhe homenagem no instante da partida, o que confirma o grande carisma
que Bira despertava naqueles com quem se
relacionava.
Estudioso e
cumpridor dos seus deveres como estudante, Bira em 2001 era aprovado com
méritos no processo seletivo de acesso ao CEFET-RN. Em razão disto, deixou Nova
Cruz e veio para Natal em busca dos seus sonhos, residindo no bairro do
Alecrim, na casa do avô. O Alecrim para ele se transformou em verdadeira
paixão. Lá estavam as raízes de sua família. O símbolo dessa paixão foi o
“Alecrim Futebol Clube”, do qual era conselheiro e diretor jurídico, a todos
proclamando o amor pelo que chamava “o verdão maravilha”.
No CEFET, onde
concluiu o curso médio em 2003, exerceu função de liderança no Grêmio
estudantil e ingressou curso de Desenvolvimento de Web e, posteriormente, no
Superior de Tecnologia em Controle Ambiental.
Bira, como dizia
Fernando Pessoa, tinha em si todos os sonhos do mundo. Conduziu-se com firmeza
em busca do sonho de ingressar no curso de Direito da nossa Universidade.
Acreditou na máxima de Walt Disney, segundo a qual se podemos sonhar, também
podemos tornar nossos sonhos realidade”.
Em 2005 entrou,
segundo as suas próprias expressões, no “glorioso” curso de direito da UFRN.
Disposto a ser um guardião da justiça, desde os bancos acadêmicos participou
ativamente de conselhos e grêmios. Foi militante ativo e coordenador do Centro
Acadêmico Amaro Cavalcanti.
De 2008 a 2009
integrou como membro titular o Conselho Universitário da UFRN, na condição de representante
estudantil, órgão máximo de função normativa, deliberativa e de planejamento da
Universidade nos planos acadêmico, administrativo, financeiro, patrimonial e
disciplinar.
Outro traço do nosso
homenageado póstumo era a visão internacional, buscando as experiências
globais, através do direito comparado, para aperfeiçoar a sua atividade
profissional.
Nessa condição, ele participou ativamente da organização SOI –
Simulação de Organizações Internacionais “-, ocasião em que integrou a Comissão
de Direitos Humanos, na Conferência das Nações Unidas, na Comissão de
Narcóticos e no Tribunal de Nuremberg. Em 2006, como
delegado do Comitê Econômico Financeiro em evento na Índia, foi premiado com
uma Menção Honrosa, por ter se destacado nos debates. Além disso, atuou no SOI
como diretor-assistente do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente), comitê voltado para os estudantes do Ensino Médio e em 2007 debateu
a questão da modernização da política e da estratégia mundial da água.
Ainda no
SOI, “Bira” teve participação ativa na Organização Mundial da Saúde, no comitê
voltado para os estudantes do ensino médio, que debateu a questão da AIDS
(HIV/AIDS - Prevenção e Combate). Na Comissão de Prevenção ao Crime e Justiça
Criminal debateu a questão dos presídios - Políticas de Humanização e Adequação
dos Sistemas Prisionais.
Minhas senhoras
Meus senhores,
O perfil
biográfico do nosso homenageado fala por si. Um homem dedicado ao Bem, que
tinha a sua frente uma estrada de vida a ser construída pela solidariedade e a
fraternidade. Quis Deus, nos seus desígnios, que essa estrada fosse
interrompida pela fatalidade de uma tragédia, exatamente quando exercia as suas
funções de advogado abnegado e vocacionado. A sua lembrança e, sobretudo, o seu
exemplo inspira a todos nós e se constitui o legado maior que deixou.
Bira participava das “calouradas”
acadêmicas, de onde nunca se afastou, mesmo tendo concluído a sua graduação.
Ele se proclamava feliz pela oportunidade de compartilhar alegrias com os amigos,
ainda estudantes. Estava presente
nos eventos do CAAC, como posses, debates, fóruns e Aulas Magnas. Os seus
pontos de vista tinham a marca da credibilidade e eram por isto acatados. Outro
traço de Bira era a preservação das tradições acadêmicas, sobretudo do curso de
direito da UFRN. Era chamado guardião da tradição do curso. Ele sempre
mencionava histórias da antiga Faculdade da Ribeira, em especial ao episódio do
furto do Busto de Amaro Cavalcanti.
Senhoras e senhores,
Diante de uma vida
digna e honrada, como foi a de Bira, esta Casa homenageia a sua memória
conferindo-lhe a cidadania Natalense. O título lhe faz justiça, tanto pelo amor
que teve pela cidade de Natal,
quanto pelos serviços que a ela prestou. Além do mais, como já disse, ser cidadão natalense era um desejo que ele
manifestava nas rodas de amigos, tendo em vista ter nascido eventualmente em
Manaus.
Bira vivia
profundamente a sua profissão de advogado. Em 2007, durante o seminário de
integração do curso de direito, afirmou: “Não
cursem o Direito. É preciso vivê-lo e respirá-lo. Ousem amar esse curso
fabuloso. Não passem pelo direito: apaixonem-se por ele”.
Os seus pais,
familiares e amigos podem se orgulhar daquele que homenageamos nesta noite, o
mais novo cidadão natalense Dr. Ubirajara
de Holanda Cavalcante Júnior.
Ao final das
minhas palavras evoco Carlos Drumond de Andrade e repito o seu verso:
“Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste”.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste”.
Que Deus conserve Bira na Eternidade.
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